quarta-feira, 20 de julho de 2011

Dança do Ventre: Espírito, Poder, Sedução e Resistência

Este texto, de minha autoria, foi apresentado pela primeira vez em meu batizado de dança do ventre, em dezembro de 2005.

                   Falar de dança do ventre é falar da mulher. Do seu corpo, da sua espiritualidade, de sua expressividade e de seu poder de resistência.
                   Sempre me impressiona a permanência dessas danças, verdadeiros ritos de celebração do feminino, que nem a força das armas de milênios de dominação machista conseguiu destruir.
                   Na verdade, para as mulheres do Oriente Médio e Norte da África, durante muito tempo e até hoje, a dança tem sido, por vezes o único momento no qual a mulher é dona do seu corpo e se expressa livremente. Não há limite de idade, peso ou tipo físico único para esta dança.
                   Ali está a mulher dançando para seus Deuses - porque, afinal, não há deus que não saiba dançar -, para si mesma, seus entes queridos, para outras mulheres. Sendo assim, é na dança que se constróem e atualizam laços de solidariedade e fraternidade entre mulheres, que estão presentes desde a aurora dos tempos.
                   Reconstróem se antigos rituais, que ficaram guardados na memória ancestral da humanidade, rituais esses em que as antigas Deusas nos abençoam. Despimo-nos dos sete véus relembrando a morte e renascimento de Inanna. Pela espada cortamos os obstáculos e invocamos a proteção de Neith. Tornamo-nos pura luz nas danças do fogo. Homenageamos a caminhada dos ciganos pelas terras do Oriente na dança do pandeiro, sob a proteção de Sara, santa de pele escura como egípcios e ciganos, por isso Kalí - e, aliás, muitos brasileiros também.
                   Essa dança sempre é lembrada pela sua sensualidade e pelos movimentos insinuantes dos quadris. Na verdade, o poder de sedução da dança do ventre é conseqüência de algo maior, que é a posse que a mulher toma de seu próprio corpo e de sua expressão. É isso que a torna naturalmente poderosa e sedutora.
                   Nesta noite entramos oficialmente no grupo das herdeiras e continuadoras desta linhagem ancestral de mulheres poderosas. Sabemos, porém, que isto é só o início de um longo aprendizado.
                   Que Santa Sara Kali, padroeira de todos os ciganos, e as Deusas antigas do Oriente - Isis, Neith, Ishtar e tantas outras - nos abençoem e iluminem.

quinta-feira, 28 de abril de 2011

Hip Hop Bellydance: Ebony

Danço da maneira clássica, quem me conhece sabe. Além do que, toda a minha linha de pesquisa dentro da dança do ventre está voltada para os folclores árabes e para as influências ciganas na dança árabe (e vice versa). Nessa linha, em que pese o respeito que eu tenho sobretudo pelo apuro técnico e pesquisa das dançarinas ligadas à dança tribal, não vejo essas danças como dança oriental, e sim como dança moderna que incorpora movimentos da dança do ventre. Mas sei ver beleza onde há: esse vídeo para mim é beleza pura. Deliciem-se:






sexta-feira, 8 de abril de 2011

Bailarinas: Fifi Abdo

Ah, a Fifi Abdo... amada e odiada, dentro e fora do mundo árabe, apresenta uma dança cheia de personalidade. Particularmente, é das minhas bailarinas preferidas.


Impossível falar de Fifi Abdo sem falar do estilo baladi. Mas, afinal, baladi é um estilo ou um ritmo? Como ritmo  é uma variante do masmoudi (aguardem post sobre ritmos); como estilo, muito mais do que isso. O próprio nome baladi significa, em árabe, "minha terra", ou "meu país". É um modo de dançar eminentemente ligado ao povo da terra, ao cotidiano, à identidade e à espontaneidade do povo. 


Fifi Abdo, para quem a raqs sharki é parte relevante da cultura e história do Egito, nasceu em 9 de novembro de 1953.  Ela cresceu em uma aldeia fora do Cairo, onde seu pai era policial. Sua mãe ficava em casa cuidando de Fifi, de seus cinco irmãos e irmãs, além dos seis filhos de seu pai.
Quando criança, Fifi assistia aos filmes com Tahia Carioca, Naima Akef e Samia Gamal e imitava cada passo delas. Sua favorita era Naima Akef, mas a quem ela muito admira é Tahia Carioca.
O longo caminho entre a bint al baladi (a menina da aldeia na cidade grande) até ser a "rainha da dança oriental" não foi fácil.
Fifi Abdo estava determinada a se tornar uma bailarina. Com doze anos, fugiu de casa com a filha de um vizinho que era uma bailarina de um grupo de folclore. Depois foi empregada doméstica de um músico que descobriu seu talento e iniciou sua carreira. Diante da obstinação da filha em dançar, seus pais finalmente cederam a sua resolução e, após Fifi trabalhar com uma trupe por algum tempo, tornou-se solista aos treze anos.
Alta e bem desenvolvida para a sua idade com aparência de modelo, era chamada pelas pessoas de The Filly. Ela passou a dançar em casamentos e a se apresentar em hotéis de cinco estrelas, sempre acompanhada da mãe.

Fifi acrescentou que muitos pensaram que ela pararia de dançar após a morte de sua mãe (final de 2003). Nessa época parou de atuar no seriado Idala'ee ya doosa. Ela diz que foi muito duro e que precisou se afastar por um tempo do mundo do entretenimento. Fifi Abdo parou de dançar em 2004. No final de sua carreira de dança ela foi considerada a melhor das "três grandes", juntamente com Lucy e Dina. Fifi no momento não dança em festas e casamentos, mas diz que, enquanto suas condições da saúde permitirem, sempre dançará em ocasiões especiais.
Personalidade polêmica
Fifi tem uma forte personalidade, dentro e fora do palco, a qual lhe legou a reputação de obstinada. Detestada igualmente por milhões que acham seu comportamento provocativo e vulgar, seu trabalho foi considerado controverso e provocante, conduzindo a várias celeumas. Isso fez dela uma das maiores celebridades egípcias. Afinal, se não ousasse, não seria Fifi...
Seu nome é mencionado tanto com relação aos escândalos quanto aos altos faturamentos de seus filmes, peças e vídeos. Além de bailariana de dança do ventre, a egípcia Fifi Abdo é uma mulher de negócios, bastante rentável por sinal! Ela e seus empresários (possue nada menos que seis) sabem lidar com a mídia. Usam as controvérsias para chamar a atenção, causar comoção e romper convenções, tanto com a mídia quanto com as autoridades. É tudo parte de um jogo. Uma bailarina menos famosa certamente enfrentaria problemas com a polícia moral.
Seu sucesso na mídia fez dela uma das mulheres mais ricas do Cairo. A revista francesa Jeune Afrique revelou que Fifi ganhou cerca de 1,1 milhões de euros entre 1993 e 1996; ela certamente ganhou mais de US$400,000 dólares por ano. Ela possui mais de cinco mil roupas de dança, várias Mercedes e dois apartamentos ao longo do rio Nilo. Ela ainda é conhecida por ajudar os menos afortunados.
Apesar da proibição dos filmes e novelas nos quais Fifi Abdo atua como Tar'al hob e El siti aseelah, sua popularidade continua intocada.
Várias mulheres do Oriente Médio vêem Fifi como uma heroína, por causa de sua audácia, embora haja alguma oposição a ela devido à controvérsia que tem criado.


Indicação para a presidência da Egyptian Belly Dancing Association

Apesar das várias disputas surgidas com a eleição do presidente da Egyptian Belly Dancing Association, os dirigentes da dança oriental decidiram que Fifi é o melhor nome para ocupar a posição. Essa diretoria realizou reunião a fim de lançar as bases para a fundação de uma associação que ajudará a proteger os direitos das bailarinas no Egito. Fifi foi nomeada para a posição com base em sua longa e rica carreira como bailarina de dança do ventre, além de que todos concordaram que ela é a candidata mais apropriada para o posto. Foram feitas várias tentativas de criar uma associação que protegesse os direitos das bailarinas de dança do ventre, mas sem sucesso.
Características da dança
Há necessidade de introduzir Fifi Abdo? A rainha da dança oriental é admirada por milhões no leste e no oeste. Ela é umashowwoman.
Famosa por sua personalidade forte e rebelde, Fifi Abdo tem um grande feeling e interage com a platéia; ela normalmente pega o microfone e fala com o público durante seu show. Certifica-se se todos estão prestando atenção. É muito importante que todos tenham bons momentos. Normalmente flerta ou brinca, mais do que é sexy.
Seu estilo é mais solto e improvisado, não sabe como fazer coreografia. Afirma que não teve professora que lhe ensinasse passos; cada movimento dela vem de dentro. É muito mais sobre a interpretação da música do que sobre uma apresentação perfeita de combinações de dança – seus movimentos são simples.
A maioria das vezes realiza os mesmos movimentos favoritos (se mantém no tremido para interpretar a música), mas ocasionalmente demonstra seu repertório de passos. Suas mãos não costumam fazer muito (os dedos estão geralmente separados), mas eles podem ser graciosos quando ela assim o deseja. Com os pés acontece o mesmo. Ela tem uma postura maravilhosa e os braços são bem colocados.
Além de uma grande leitura musical, tem um incrível controle de seu quadril, incrivelmente potente, e dos movimentos do abdômem. Olha para o quadril por um bom tempo, quando ela está tremendo. Seu poderoso tremido se repercute ao longo de seu corpo. Combina fortes acentos de peito com básicos em deslocamentos, realizados de forma tranqüila.
Realiza giros e deslocamentos simples. Sua dança é forte e impressionante com uma incrível presença de palco, consegue prender a atenção e é sorridente.
Mais madura, ela anda fazendo charme para a platéia e, ocasionalmente, faz um tremido; em seus solos de percussão, não marca cada batida.
Também é mestra na bengala, manejando-a com total controle e atingindo uma velocidade incomum para mulheres, embora ainda mantenha a elegância e a feminilidade.
Balbucia a letra das músicas, e, por vezes, ela canta, mas não enquanto dança. Toca snujs durante uma parte do seu show. Se ela os deixa cair, torna o momento engraçado.
Mais voltada para as tradições folclóricas egípcias, Fifi Abdo também cria dança tableaus que são fortemente influenciados por esse estilo.
Em suas apresentações mais recentes, por exemplo, você a encontrará em uma cafeteria do bairro, performando sua famosa dança Shisha, na qual detém um narguile, ela vira o carvão, solta a fumaça sete vezes como a mulher do campo.
Busca ainda inspiração para adicionar algo inédito e/ou loucuras inusitadas a seus shows, como cantar, descer no palco com um guindaste, fazer abertura no palco, dançar um baladi escalando ou realizar movimentos no solo.
Em um workshop em Dallas, no Texas, realizado de 18 a 20 de maio de 2007, Fifi continuava glamorousa, mas essencialmente se mantém a típica bint al baladi, a menina da aldeia que vai para a cidade grande, com seu sorriso irradiante e seu famoso senso de humor.
E quando está em cena, parece sempre jovem...
Movimentos característicos
Fifi Abdo é frequentemente criticada por seu repertório limitado de movimentos:
  • Tremido alternado: ela move os joelhos quando deseja que o tremido seja bem grande, mas o movimento não é originário de sua pernas;
  • Movimentos de mão: há muitos movimentos de mão e bater com as mãos na cabeça e no quadril simultaneamente é provavelmente o mais conhecido;
  • Bengala: o movimento mais famoso é o cambrê com a passagem pelas laterais, além de chutá-la para um giro;
  • Ovinho: oito para trás ou para frente com twist;
  • Salto/parada/batida de pé: faz um pequeno pulo antes de começar a girar (especialmente na finalização);
  • Giros;
  • Deslocamentos simples: mas elegantes;
  • Segurar a barra da saia ou brincar com a franjas do sutiã;
  • Círculos pélvicos: todos os tamanhos e intensidades;
  • Básicos com deslocamentos;
  • Acentos de peito;
  • Ximes de ombro: bons movimentos de ombros sem movê-los rápido.
Adereços e coadjuvantes:
  • Narguile;
  • Bengala;
  • Alaúde;
  • Snujs;
  • Lenço preto enrolado;
  • Véu (roda, roda, solta);
  • Banda: cerca de 20 a 45 músicos, que eventualmente formam um biombo para que ela possa trocar seu vestidobaladi;
  • Bailarinos do sexo masculino.

Alguns vídeos para vosso deleite:









segunda-feira, 4 de abril de 2011

Maratona de oficinas com Darah Hamad

Nos dois últimos domingos tive a enorme satisfação de fazer aulas com Darah Hamad. No dia 27, oficinas de espada, punhal, candelabro e taças. Ontem, de said com bastão, dança ghawazee, pandeiro e jarro. Domingos maravilhosos, nos quais não só tive a oportunidade de aprender com alguém que compartilha minhas visões de respeito à tradição e à cultura árabe, como aprimorar minha técnica com uma mestra de alta qualidade e dedicação. E, claro, além disso, fazer amizades - ela própria, a linda Andréa, a doce Amanda e outras que compartilharam esses dias alegres comigo. É sempre um prazer e uma alegria da alma encontrar quem compartilha da mesma família espiritual! ;-)

sexta-feira, 1 de abril de 2011

O universo simbólico da dança do ventre (4)

Dança do Candelabro (Raqs el Shemadan)


Essa é uma dança bem antiga e tradicional. É muito comum em festas de casamento ou batizados de crianças. A bailarina dança com o Shamadan, um candelabro aceso cheio de velas (7, 9, 13 ou até 17 velas), em cima da cabeça. De acordo com a tradição, elas simbolizam a luz e a felicidade que virá na vida dos noivos ou dos bebês. As velas geralmente são brancas, que significam a pureza, mas também pode-se usar outras cores, como vermelha (amor, sexo, fecundidade), verde (dinheiro), azul (carinho), amarelo (saúde), lilás (transmutação) e rosa.

"A dança do candelabro como parte da Zeffa egícia pertence ao início do séc. XX. Antes desta época, a zeffa era liderada por dançarinas e músicos mas a iluminação era fornecida apenas por velas especialmente produzidas para tanto, mediam 3 pés e eram especialmente decoradas para a festa. Outras pessoas participantes da ZEFFA carregavam pequenas lanternas com velas dentro que complementavam a iluminação da procissão. As velas especiais para casamento permanecem como parte da cerimônia até os dias de hoje.

Tradicionalmente a Zeffa acontece de noite, mudando de direção através das ruas da vizinhança da casa dos pais da noiva até a casa de seu noivo que passará a ser sua nova casa. Esta é a mudança oficial da noiva e é liderada por uma dançarina, músicos e cantores, seguidos logo após pela festa de casamento, pelos amigos e a família.


Existem músicas especiais para estas ocasiões com um ritmo específico conhecido informalmente como batida Zeffa. Esta seria sempre a música apropriada para usar durante a procissão de casamento.

Desde os anos setenta, em função das festas de casamento no Egito terem se tornado mais urbanas e modernizadas, a Zeffa se mudou junto com a festa para os ambientes hoteleiros. No hotel , a Zeffa vai acontecer na escadaria central do hotel indo para o hall da sala de recepção onde as festividades terão lugar. Dentro deste salão a procissão circunda todo o ambiente e deposita os noivos em tronos especiais ornamentados com flores num dos cantos da grande sala. Depois da Zeffa terminada, a dançarina ainda fará uso de mais música que pode ser típica para a ocasião ou não, para fazer a noiva se levantar e dançar, depois o noivo, e finalmente o casal é convidado a dançar juntos. A dançarina pode ainda apresentar um solo de candelabro que pode incluir até mesmo uma descida ao chão. Esta é a parte teatral da apresentação usada apenas para entreter os convidados, separada da parte tradicional da Zeffa." (texto escrito por Lucy Smith e traduzido por Lulu Sabongi).



quinta-feira, 24 de março de 2011

O universo simbólico da dança do ventre (3)


Dança do punhal / dança da espada

            A espada e o punhal têm sido historicamente associadas aos poderes mentais de separação do bem e do mal, da justiça e da decisão, além do afastamento das influências maléficas. Também são símbolos reconhecidamente fálicos. Na dança do ventre, os dois instrumentos possuem conotações distintas.

            A dança da espada tal como vista atualmente é uma moderna adaptação de uma dança tradicional executada por homens, chamada Arjan, que narra as histórias de lutas e vitórias dos clãs.

            A dança do punhal, por outro lado, é herdeira de danças iniciáticas que evocam os poderes da transmutação, da imortalidade e do sexo.

Uso de snujs

            De forma análoga ao uso dos véus no princípio das apresentações, o snuj é frequentemente usado no início de apresentações para que, com seu som, purifique o ambiente.

O universo simbólico da dança do ventre (2)


2 - Ritmos e modalidades

            Tendo em vista a multiplicidade de locais por onde a expansão árabe passou, há uma multiplicidade de ritmos na dança do ventre. Os mais conhecidos são: baladi, said, masmudi, wahdawonoz, chifteteli (Turquia, Grécia), fallahi, samaai (clássico), zaffa (dança do candelabro), soudi (khaleege), ayubi/ zaar (dança ritualística), kachlamar (karsilama), etc.



3 – A dança do ventre e os quatro elementos.

            Dentre os movimentos executados pela bailarina na dança do ventre, os movimentos de ondulação remetem à fluidez das águas e do ar; já os movimentos mais secos e duros estão relacionados à terra e ao fogo.

            Os quatro elementos primordiais (água, ar, terra, fogo) são constantemente evocados nas diferentes modalidades da dança do ventre. Vejamos agora como se dá essa relação.

3.1 – Ar

Danças com véus

            O véu (hijab) quer dizer, em árabe, “o que separa duas coisas”. Assim sendo, está associado ao conhecimento oculto ou revelado. Embora as mulheres, em diferentes lugares do globo, dancem com véus, lenços ou xales desde a aurora dos tempos, as danças com véu, tal como hoje em dia as conhecemos, são – em sua maioria – contribuição dos coreógrafos russos que, na década de 30 do século passado, introduziram este adereço para enfatizar, nas apresentações em grandes espaços, os movimentos de braços das bailarinas.

sábado, 19 de março de 2011

O universo simbólico da dança do ventre: breve introdução


1 – Dança do ventre, dança árabe, danças árabes

            “Dança do ventre” é o nome genérico dado no Ocidente a diversas danças árabes; no mundo árabe a dança é referida como raqs el-shark (dança do Oriente, ou dança do Leste). Na verdade, o mais correto é falar em danças árabes, tendo em vista a multiplicidade de danças, clássicas ou modernas, ritualísticas ou folclóricas. O nome "dança do ventre" vem da chegada dos europeus ao mundo árabe, impressionados com os movimentos abdominais feitos pelas mulheres que dançavam (ventre = barriga, em francês).

1.1 – Origem da dança oriental

            A dança é um fenômeno universal. Entre as primeiras manifestações culturais dos seres humanos estava presente a dança, intimamente ligada aos rituais religiosos. Dançavam os xamãs e pajés primitivos para convocar a chuva, dançavam os antigos povos em homenagem a seus ancestrais, para livrar-se de doenças e negatividades, para chamar a fartura para suas tribos, para celebrar os ciclos da natureza. Dança-se até hoje, nos terreiros de candomblé e umbanda, para conectar-se com os deuses. O povo árabe não é diferente: dança-se para celebrar os momentos mais significativos dos clãs, para festejar a presença da água, para os empreendimentos em comum, para celebrar a feminilidade e a sedução, para seus grandes ritos de passagem.

            Costuma-se dizer que a dança do ventre "propriamente dita", tal como a conhecemos, remonta aos templos do Antigo Egito, onde as sacerdotisas dançavam para a adoração a suas deusas, como Isis, Neith, Hathor, Selket e outras. Embora possamos afirmar com segurança que a origem das danças orientais é anterior ao advento do islamismo, sabemos também que a dança do ventre hoje em dia praticada tem diversas influências, inclusive a do balé clássico.

1.2 - Influências
            O que hoje se conhece como mundo árabe foi, historicamente, uma região de confluência entre diversas etnias. Vários povos ali se encontraram: o povo árabe vindo da Península Arábica (sobretudo com a Hégira muçulmana), africano, cigano, persa e outros. Todos estes povos ajudaram a formar o que hoje conhecemos como dança árabe, modificando de tal forma aquela cultura ali existente a ponto de tornar dificílima, senão impossível, uma verdadeira reconstituição da forma que se dançava ali.

            Esta forma de se dançar, com diversas influências, ganhou o mundo a partir da expansão árabe pela Europa. A música árabe se tornou uma das matrizes do flamenco espanhol, sobretudo a partir da entrada dos ciganos árabes na Península Ibérica.

            Hoje em dia a dança do ventre presencia uma nova expansão e, concomitantemente, uma incorporação de novas influências. Há muitas bailarinas que desenvolvem trabalhos com influência da moderna música cigana, do rock, da dança indiana e de outros ritmos - são as chamadas danças de fusão, que apresentam-se em um espectro muito variado, desde a incorporação de ritmos de diversos locais à dança árabe até trabalhos em tudo estranhos à cultura árabe.

(continua no próximo post)

quarta-feira, 16 de março de 2011

Apresentação: minha raiz.

Nos documentos, Valeria. Para os amigos, Val. Na dança, Zahra El Saif, Flor do Verão, ou Flor dos Desertos. O amor de infância à música árabe (não desgrudava do rádio na hora do Programa O Mundo Árabe, apresentado pelo Fouad Tayar na antiga Rádio Imprensa) resultou, nos idos de 1999, nas primeiras aulas de dança do ventre, no Méier, com a mestra Yasmin Rajal, e, alguns anos depois, no início do aprendizado da língua árabe, no curso de línguas da UFRJ. De lá para cá, aulas com as mestras Krallisa Sechat, Nara Mahsati e Khalida Zareen, workshops de danças orientais com Nasser Mohammad, Fairuza Bannout, Dunia La Luna, Jade El Jabel, Nafisa Shazadi, entre outros, além da dança cigana, outra paixão.
A dança do ventre (raqs sharqi - dança do oriente, em árabe) é, na minha vida, pura expressão da alma e da espiritualidade - claro, prezando sempre o apuro da técnica e o respeito à cultura. O mesmo se aplica à dança cigana. E é dentro desse prisma que pretendo apresentar meus textos sobre a arte da dança.

Ahlan wa sahlan!

Bem-vindo(a)!