quinta-feira, 24 de março de 2011

O universo simbólico da dança do ventre (3)


Dança do punhal / dança da espada

            A espada e o punhal têm sido historicamente associadas aos poderes mentais de separação do bem e do mal, da justiça e da decisão, além do afastamento das influências maléficas. Também são símbolos reconhecidamente fálicos. Na dança do ventre, os dois instrumentos possuem conotações distintas.

            A dança da espada tal como vista atualmente é uma moderna adaptação de uma dança tradicional executada por homens, chamada Arjan, que narra as histórias de lutas e vitórias dos clãs.

            A dança do punhal, por outro lado, é herdeira de danças iniciáticas que evocam os poderes da transmutação, da imortalidade e do sexo.

Uso de snujs

            De forma análoga ao uso dos véus no princípio das apresentações, o snuj é frequentemente usado no início de apresentações para que, com seu som, purifique o ambiente.

O universo simbólico da dança do ventre (2)


2 - Ritmos e modalidades

            Tendo em vista a multiplicidade de locais por onde a expansão árabe passou, há uma multiplicidade de ritmos na dança do ventre. Os mais conhecidos são: baladi, said, masmudi, wahdawonoz, chifteteli (Turquia, Grécia), fallahi, samaai (clássico), zaffa (dança do candelabro), soudi (khaleege), ayubi/ zaar (dança ritualística), kachlamar (karsilama), etc.



3 – A dança do ventre e os quatro elementos.

            Dentre os movimentos executados pela bailarina na dança do ventre, os movimentos de ondulação remetem à fluidez das águas e do ar; já os movimentos mais secos e duros estão relacionados à terra e ao fogo.

            Os quatro elementos primordiais (água, ar, terra, fogo) são constantemente evocados nas diferentes modalidades da dança do ventre. Vejamos agora como se dá essa relação.

3.1 – Ar

Danças com véus

            O véu (hijab) quer dizer, em árabe, “o que separa duas coisas”. Assim sendo, está associado ao conhecimento oculto ou revelado. Embora as mulheres, em diferentes lugares do globo, dancem com véus, lenços ou xales desde a aurora dos tempos, as danças com véu, tal como hoje em dia as conhecemos, são – em sua maioria – contribuição dos coreógrafos russos que, na década de 30 do século passado, introduziram este adereço para enfatizar, nas apresentações em grandes espaços, os movimentos de braços das bailarinas.

sábado, 19 de março de 2011

O universo simbólico da dança do ventre: breve introdução


1 – Dança do ventre, dança árabe, danças árabes

            “Dança do ventre” é o nome genérico dado no Ocidente a diversas danças árabes; no mundo árabe a dança é referida como raqs el-shark (dança do Oriente, ou dança do Leste). Na verdade, o mais correto é falar em danças árabes, tendo em vista a multiplicidade de danças, clássicas ou modernas, ritualísticas ou folclóricas. O nome "dança do ventre" vem da chegada dos europeus ao mundo árabe, impressionados com os movimentos abdominais feitos pelas mulheres que dançavam (ventre = barriga, em francês).

1.1 – Origem da dança oriental

            A dança é um fenômeno universal. Entre as primeiras manifestações culturais dos seres humanos estava presente a dança, intimamente ligada aos rituais religiosos. Dançavam os xamãs e pajés primitivos para convocar a chuva, dançavam os antigos povos em homenagem a seus ancestrais, para livrar-se de doenças e negatividades, para chamar a fartura para suas tribos, para celebrar os ciclos da natureza. Dança-se até hoje, nos terreiros de candomblé e umbanda, para conectar-se com os deuses. O povo árabe não é diferente: dança-se para celebrar os momentos mais significativos dos clãs, para festejar a presença da água, para os empreendimentos em comum, para celebrar a feminilidade e a sedução, para seus grandes ritos de passagem.

            Costuma-se dizer que a dança do ventre "propriamente dita", tal como a conhecemos, remonta aos templos do Antigo Egito, onde as sacerdotisas dançavam para a adoração a suas deusas, como Isis, Neith, Hathor, Selket e outras. Embora possamos afirmar com segurança que a origem das danças orientais é anterior ao advento do islamismo, sabemos também que a dança do ventre hoje em dia praticada tem diversas influências, inclusive a do balé clássico.

1.2 - Influências
            O que hoje se conhece como mundo árabe foi, historicamente, uma região de confluência entre diversas etnias. Vários povos ali se encontraram: o povo árabe vindo da Península Arábica (sobretudo com a Hégira muçulmana), africano, cigano, persa e outros. Todos estes povos ajudaram a formar o que hoje conhecemos como dança árabe, modificando de tal forma aquela cultura ali existente a ponto de tornar dificílima, senão impossível, uma verdadeira reconstituição da forma que se dançava ali.

            Esta forma de se dançar, com diversas influências, ganhou o mundo a partir da expansão árabe pela Europa. A música árabe se tornou uma das matrizes do flamenco espanhol, sobretudo a partir da entrada dos ciganos árabes na Península Ibérica.

            Hoje em dia a dança do ventre presencia uma nova expansão e, concomitantemente, uma incorporação de novas influências. Há muitas bailarinas que desenvolvem trabalhos com influência da moderna música cigana, do rock, da dança indiana e de outros ritmos - são as chamadas danças de fusão, que apresentam-se em um espectro muito variado, desde a incorporação de ritmos de diversos locais à dança árabe até trabalhos em tudo estranhos à cultura árabe.

(continua no próximo post)

quarta-feira, 16 de março de 2011

Apresentação: minha raiz.

Nos documentos, Valeria. Para os amigos, Val. Na dança, Zahra El Saif, Flor do Verão, ou Flor dos Desertos. O amor de infância à música árabe (não desgrudava do rádio na hora do Programa O Mundo Árabe, apresentado pelo Fouad Tayar na antiga Rádio Imprensa) resultou, nos idos de 1999, nas primeiras aulas de dança do ventre, no Méier, com a mestra Yasmin Rajal, e, alguns anos depois, no início do aprendizado da língua árabe, no curso de línguas da UFRJ. De lá para cá, aulas com as mestras Krallisa Sechat, Nara Mahsati e Khalida Zareen, workshops de danças orientais com Nasser Mohammad, Fairuza Bannout, Dunia La Luna, Jade El Jabel, Nafisa Shazadi, entre outros, além da dança cigana, outra paixão.
A dança do ventre (raqs sharqi - dança do oriente, em árabe) é, na minha vida, pura expressão da alma e da espiritualidade - claro, prezando sempre o apuro da técnica e o respeito à cultura. O mesmo se aplica à dança cigana. E é dentro desse prisma que pretendo apresentar meus textos sobre a arte da dança.

Ahlan wa sahlan!

Bem-vindo(a)!