quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

Origens da Dança do Ventre

(Este post é um trecho adaptado do Trabalho de Conclusão de Curso que apresentei no Curso de Qualificação de Instrutores de Dança - Especialização Dança do Ventre, organizado pelo Sindicato dos Profissionais de Dança do Rio de Janeiro, no qual graduei-me em fevereiro de 2012. Em caso de citação do trabalho, por favor coloque os créditos. Grata. Valeria L. Almeida - Zahra El Saif)



                        Os Primórdios da Dança do Ventre

                        Não há como determinar a origem exata da dança do ventre, pela falta de registros conclusivos. Contudo, há três hipóteses geralmente mais aceitas quando se fala dos primórdios da dança oriental árabe, não excludentes entre si.
                        A primeira delas supõe ser a dança do ventre remanescente de antigos cultos a divindades femininas, cuja veneração era parte de religiões ancestrais e evocava a origem da vida e a fertilidade.
                        Alguns historiadores sustentam que a origem da dança do ventre remonta a mais de nove mil anos. Foram encontradas na Argélia pinturas rupestres mostrando dançarinas em posições típicas da dança oriental, datadas de 7000 a.C.
                        Indícios de ritos propiciatórios a Grandes Deusas Mães foram encontrados em diversos locais do mundo antigo, por exemplo: Mesopotâmia, Egito, Anatólia, Grécia, Turquia, Norte da África, etc. Neles eram realizadas danças alusivas aos atributos dessas deusas, as quais incluíam movimentos ondulatórios rítmicos no ventre e nos quadris. Com o desenvolvimento posterior daquelas sociedades, a dança passou a ser realizada por sacerdotisas nos templos.

                             A Mesopotâmia

                        Dá-se o nome de Mesopotâmia à região delimitada entre os rios Tigre e Eufrates, o que hoje corresponde a áreas do Sul da Turquia, Síria, e Iraque. Esta região é parte do Crescente Fértil, “região do  Oriente Médio compreendendo os atuais Israel, Cisjordânia e Líbano bem como partes da Jordânia, da Síria, do Iraque, do Egito, do sudeste da Turquia e sudoeste do Irã. O termo « Crescente Fértil » foi criado pelo arqueólogo James Henry Breasted, da Universidade de Chicago, em referência ao fato de o arco formado pelas diferentes zonas assemelhar-se a uma Lua crescente.”¹ Esta região abrigou os primeiros assentamentos agrários conhecidos, há cerca de 11000 anos, bem como as mais antigas cidades, Estados e registros escritos. Por essa razão, a região ficou conhecida como Berço da Civilização. Lá desenvolveram-se as sociedades suméria, acadiana, amonita, assíria e caldéia.
                        Na Mesopotâmia, sobretudo entre os babilônios, a dança encontrava-se vinculada à religião. Na Suméria, havia o culto à deusa Ishtar (também denominada Astarte ou Inana), deusa do amor e da guerra, no qual a dança fazia parte dos ritos.

                        O Egito

                        O Antigo Egito foi uma civilização do Norte Africano que se desenvolveu ao longo do curso do Rio Nilo, no território correspondente ao Egito moderno, delimitado ao norte pelo Mar Mediterrâneo, a oeste pelo Deserto da Líbia, a Leste pelo Deserto Oriental Africano e a sul pela primeira catarata do Rio Nilo.
                        Consta que já desde 3000 a.C., as sacerdotisas egípcias praticavam a dança nos templos em homenagem à Deusa Isis. Acredita-se que os cultos a essa deusa tenham absorvido antigos ritos que utilizavam a dança como forma ritual de adoração.
                        Ainda se vêem hoje, como reminiscência de prováveis antigos ritos de fertilidade, em tribos do interior do Marrocos, “ rituais de nascimento, em que as mulheres se reúnem em torno da parturiente com as mãos unidas, e cantando, realizam as ondulações abdominais a fim de estimular e apoiar a futura mãe a ter um parto saudável, sendo que a futura mãe fica de pé, e realiza também os movimentos das ondulações com a coluna. “

                        A Expansão Islâmica

                        Outra vertente de pesquisa levanta a hipótese da formação da dança do ventre a partir do contato dos povos egípcios com ondas de invasores que remontam à expansão do Império Romano (ou até antes), mas, sobretudo, com a invasão do Egito pelos árabes em 638 d.C.
                        A expansão do islamismo deu-se a partir de 632 d.C., com a morte do profeta Maomé, que estabelecera a unificação das tribos da Península Arábica, o que acabou propiciando, sob o domínio dos califas rashidun (ou ortodoxos) e omíadas, uma expansão do poder árabe para muito além dos limites da região, “sob a forma de um vasto Império Árabe muçulmano, com uma área de influência que se estendia do noroeste da Índia, através da Ásia Central, o Oriente MédioÁfrica do NorteItália setentrional e Península Ibérica, até os Pireneus.”            
                        Nesse momento, a dança assume caráter festivo, sendo realizada em eventos populares e palaciais e perdendo sua conotação religiosa.


                        A Influência Cigana

                        Uma terceira corrente de pesquisa aponta a influência dos ciganos na origem da dança do ventre. A origem do povo cigano é bastante controversa, porém as últimas e mais aceitas pesquisas indicam ser este povo originário das regiões indianas do Rajastão e  Punjab, tendo sido obrigadas a emigrar rumo a oeste, possivelmente em ondas, entre os séculos VI e X d.C.
  
                        Supõe-se que a saída da Índia tenha ocorrido em meio às invasões do sultão Mahmud de Ghazni, da região do atual Afeganistão. Parte das caravanas seguiu rumo à Europa, enquanto outra parte seguiu pelo Oriente Médio e pela Península Arábica, adentrando o continente africano. Tais caravanas vieram a dar origem, mais tarde, aos ciganos do clã Domari, entre os quais estão incluídos os Nawari, presentes ainda hoje na Síria, Líbano, Jordânia, Egito, entre outros países daquela região e que tinham, como um de seus ofícios tradicionais, a música e a dança, conforme veremos a seguir.

                        O que se conclui é que nenhuma dessas hipóteses dá conta, na íntegra, da origem da dança do ventre; na verdade, trata-se de vertentes complementares na compreensão do início dessa dança. É inegável o componente evocatório da  fertilidade existente na dança do ventre ainda hoje, sobretudo nas pequenas comunidades rurais, assim como evidenciam-se diversas  outras influências em razão das trocas culturais havidas a partir da expansão árabe. 

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NOTAS